domingo, 8 de maio de 2011

Artigo


EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PLANEJAMENTO URBANO: em busca de uma aproximação em Teresópolis

Luiz Antônio de Souza Pereira

Geógrafo, especialista em Planejamento e Uso do Solo Urbano, mestre e doutorando em Geografia, e professor dos cursos de Pedagogia, Engenharia Ambiental e Engenharia de Produção do UNIFESO
luizantoniopereira@feso.br

As fortes chuvas dos dias 11 e 12 de janeiro de 2011 e suas conseqüências ficarão marcadas na história do país, em especial, da população que vive ou perdeu parentes e amigos na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro. Foi a maior tragédia ambiental no Brasil de todos os tempos.
Após a tragédia, algumas perguntas ganharam destaque: o que aconteceu? de quem é a culpa? A tragédia poderia ter sido evitada?
Dentre os fatores que contribuíram para a catástrofe, podemos listar, do ponto de vista natural, a grande quantidade de chuvas nas semanas anteriores a tragédia e o relevo da região serrana. Do ponto de vista humano é observada a falta de: sistemas de monitoramento e alerta, treinamento a população de como prevenir e agir em situações de eventos naturais extremos e planejamento no uso e ocupação do solo.
Todos esses fatores juntos potencializaram as perdas de vidas e econômicas. Apesar de reconhecer a importância de todos os fatores listados acima, por razão de espaço trataremos especificamente da falta de planejamento no uso e ocupação do solo em Teresópolis.
É necessário retornarmos ao passado para compreendermos a situação atual da cidade. Enquanto o número da população rural sofreu pequena alteração desde 1950, a população urbana aumentou mais de 800%. Éramos menos de 15.000 moradores na área urbana, em 1950, e hoje somos cerca de 145.000. Só na última década nossa cidade ganhou 30.000 novos moradores.
O elevado crescimento populacional verificado torna-se um problema quando não é acompanhado por uma política habitacional, sobretudo para a população mais pobre, e investimentos em infra-estrutura, transporte, equipamentos e serviços urbanos.
Para piorar, nas últimas décadas, é possível observar claramente o avanço da especulação fundiária e imobiliária na cidade. Em bairros valorizados, como Agriões, foram e são construídos grandes prédios, onde um apartamento de 3 quartos ultrapassa R$ 400.000,00. Casas geminadas marcam a paisagem por toda a cidade e nas áreas de expansão são construídos condomínios de luxo em que o metro quadrado de terreno chega aos R$ 200,00.
Como conseqüência, Teresópolis inicia o século XXI ocupando a triste segunda colocação entre as cidades com maior proporção de população vivendo em favelas no Estado do Rio de Janeiro.
Cabe aos municípios, desde a Constituição Federal de 1988, planejar as formas de ocupação e uso do solo. A aprovação do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) possibilita aos municípios uma série de mecanismos para o planejamento e gestão das cidades brasileiras.
Vale lembrar que práticas inadequadas em relação ao meio ambiente já levaram diversas sociedades ao declínio e até extinção e que as leis ambientais, via de regra, surgiram após grandes desastres ou a perda da qualidade de vida da população.
A tragédia de janeiro de 2011 deve servir como ponto de partida para a construção de uma nova relação com a natureza e entre os homens.
A injustiça social e a relação desarmônica entre os seres humanos com a natureza estão materializados na paisagem teresopolitana. A natureza de tempos em tempos nos lembra dessa injustiça e desarmonia, seja em forma de tragédias provocadas por eventos ambientais extremos ou pela perda da qualidade de vida da população.
A educação ambiental, enquanto prática pedagógica e política, pode nortear a busca por uma sociedade mais justa e ao mesmo tempo ambientalmente sustentável. Assim, a aproximação entre o planejamento urbano e a educação ambiental torna-se necessária e urgente. 


Apresentação feita na Aula Magna


PLANEJAMENTO URBANO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: EM BUSCA DE UMA APROXIMAÇÃO EM TERESÓPOLIS – RJ[1] 

Luiz Antônio de Souza Pereira

Professor do UNIFESO e Doutorando em Geografia pela UFF
As fortes chuvas dos dias 11 e 12 de janeiro de 2011 e suas conseqüências ficarão marcadas na história do país, em especial, da população que vive ou perdeu parentes e amigos na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro.
Foi a maior tragédia ambiental no Brasil de todos os tempos. Levantamentos realizados após um mês da tragédia, apresentavam: 904 mortos (381 em Teresópolis – em uma população total de 163.805, segundo o Censo do IBGE 2010), 395 desaparecidos (213 em Teresópolis), 20.996 desalojados (6.210 em Teresópolis) e 8.814 desabrigados (5.058 em Teresópolis).
Após a tragédia, algumas perguntas ganharam destaque: o que aconteceu? de quem é a culpa? A tragédia poderia ter sido evitada?
Resumidamente, é verificada uma grande quantidade de chuvas nas semanas anteriores a tragédia. A grande quantidade de água precipitada, em curto intervalo de tempo, na noite do dia 11 e madrugada do dia 12 de janeiro é considerada um fenômeno raríssimo. Mas que pode se tornar mais freqüente, caso se confirme a tendência de alterações climáticas (devido a fatores naturais e/ou humanos).
A morfologia da região – com encostas íngremes e vales encaixados – somada a falta de:
- planejamento no uso e ocupação do solo;
- um eficaz e eficiente sistema de monitoriamente;
- um sistema de alerta[2];
 - treinamento de como agir em situações de eventos naturais extremos[3].
            Potencializaram as perdas de vida e econômica.
O presente trabalho visa compreender e analisar o planejamento urbano (ou a sua falta), em especial, a forma de ocupação e uso do solo no município de Teresópolis – RJ nas últimas décadas.
A busca de uma aproximação com a educação ambiental se faz necessário, enquanto prática pedagógica e política, na construção de uma sociedade justa e sustentável ambientalmente.

1. BREVE HISTÓRICO DA FORMAÇÃO E CRESCIMENTO DE TERESÓPOLIS

Originalmente, a Serra dos Órgãos era ocupada por índios Tamoios, Timbiras e Maracajás (FÉO, 2010).
Apesar da existência de uma sesmaria no século XVIII, apenas no século XIX, através do inglês George March, começa o processo de ocupação efetivo da região.
George March desenvolvia agricultura e pecuária, mas também recebia convidados em sua fazenda “Santo Antônio do Paquequer”. Em seu processo de surgimento, já nascia a vocação a agricultura e ao veraneio. 
Sob a denominação de Santo Antônio do Paquequer, torna-se em 1855, Distrito do município de Magé.
No final do século XIX é elevada a categoria de Vila, em 1891. Nos anos seguintes passa a se chamar Teresópolis (1892) e é elevada a categoria de Cidade (1893).
Na primeira metade do século XX, o município de Teresópolis apresenta um crescimento populacional “modesto”. No Censo de 1950 é contabilizado um pouco menos de 35.000 moradores. A maior parte da população está localizada na área rural (quase 20.000).
No gráfico 1 é possível observarmos o aumento populacional do município de Teresópolis (população urbana, rural e absoluta) por década.      
Gráfico 1: População de Teresópolis (1950 – 2010)
FONTE: Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010).
           Com base no gráfico 1 é possível observarmos que a população urbana se torna maior que a população rural na passagem da década de 1950 para 1960.
           Enquanto a população rural permaneceu praticamente estacionada desde então, oscilando entre 18.000 e 23.000 pessoas, a população urbana aumentou mais de 800% até 2010. Eram menos de 15.000 moradores na área urbana, em 1950, e hoje são cerca de 145.000.
              Entre 1950 e 1960 a população urbana praticamente dobrou e nas décadas seguintes observa-se um elevado incremento de cerca de 25.000 (1970 - 1980) e 20.000 (1980 - 1991). Entre 1991 – 2000, o aumento da população foi menos expressivo que nas décadas passadas, um pouco mais de 10.000. Porém, entre 2000 – 2010 houve um grande salto, com o incremento de aproximadamente 30.000.
           O elevado crescimento populacional verificado torna-se um problema quando não é acompanhado por uma política habitacional, sobretudo para a população mais pobre, e investimentos em infra-estrutura, equipamentos e serviços urbanos.
Veremos a seguir como ocorreu o crescimento urbano nas últimas décadas, em especial, a partir dos anos 1990.

2. O CRESCIMENTO URBANO NAS ÚLTIMAS DÉCADAS
          
Teresópolis iniciou o século XXI ocupando a triste segunda colocação entre as cidades com maior proporção de população vivendo em favelas (cerca de 25%), no Estado do Rio de Janeiro, num total de 91 municípios. São mais de 30 mil moradores (quinto lugar em população absoluta) vivendo nas 22 favelas identificadas pelo IBGE (quarta cidade em número de favelas).
Os números são do Estudo do Tribunal de Contas do Estado – TCE, com base em dados do Atlas de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, lançado em 2004.
Ao analisarmos os dados do Censo 2010 – IBGE é possível verificar que os 163.805 habitantes de Teresópolis vivem em 53.057 domicílios, o que corresponde a uma média de 3 pessoas por domicílio.
Cabe registrar que o número total de domicílios no município é de 72.047. Dos 18.990 imóveis não ocupados, cerca de um terço do total de imóveis, 6.609 estavam fechados e 11.600 possuem ocupação ocasional (férias e fins de semana).
Os dados apresentados mostram a forte tradição e potencialidade do município para receber veranistas (ocupação ocasional), mas também deixa evidente a falta de políticas públicas para garantir o direito a moradia digna para um em quatro habitantes. 
Para compreender o crescimento urbano em Teresópolis, nas últimas décadas, dividiremos o capítulo em dois subtópicos. Primeiramente mostraremos o avanço da especulação fundiária e imobiliária e posteriormente apresentaremos a outra face da moeda, o processo de favelização crescente na cidade.

2.1 Um lado da moeda: novos empreendimentos imobiliários

            Nas últimas décadas, em especial, a partir do final dos anos 1990, verifica-se em Teresópolis:
- um crescente processo de verticalização em áreas já ocupadas e consolidadas;
- a construção de casas geminadas;
- a construção de condomínios de luxo (venda de lotes);
            Ao longo da principal via que conecta os bairros Alto e Várzea é possível observarmos diversos prédios com oito ou mais andares.
No bairro Agriões, valorizado e tipicamente residencial, ocorre o maior processo de verticalização na cidade. Muitas residências são compradas e demolidas, por empreendedores imobiliários, para a construção de prédios com mais de oito andares.
Imagens 1 e 2: Contraste no bairro Agriões
     
            Na imagem 1, observa-se o forte contraste entre uma residência antiga e um prédio elevado construído recentemente. Na imagem 2, podemos observar o resto de entulho de uma residência e a preparação inicial do terreno para a construção de provavelmente mais um prédio elevado, como o que está ao fundo.
            A transformação de áreas onde morava uma família, para a construção de prédios com mais de 30 apartamentos aumenta a demanda por infra-estrutura e serviços no bairro. Reduz a permeabilidade do solo (aumentando a possibilidade de enchentes) e aumenta a circulação de automóveis e a temperatura local (ilha de calor – em função do excesso da combinação asfalto concreto e redução de áreas verdes).
Imagens 3: Inovações no bairro Agriões
  
            A imagem 3 apresenta um exemplo de prédio que projeta as inovações disponíveis no mercado. Em vez de muros ou cercas, utilizou-se uma estrutura de vidro para separar o empreendimento da calçada proporcionando, do ponto de vista estético, uma paisagem mais moderna, limpa e clara. Pode-se observar também que o projeto valorizou a oferta de um número expressivo de varandas.
Ao pesquisar o valor de imóveis no bairro Agriões, no início do mês de março de 2011, em algumas imobiliárias na cidade, não é raro encontrar apartamentos de 3 quartos a venda por R$ 450.000,00 ou mais.  
Em diversos pontos da cidade foram construídos empreendimentos de casas geminadas, algumas com áreas de lazer. Nas imagens 4 e 5 podemos observar dois exemplos, na área central e de expansão da cidade (no Vale Feliz), respectivamente.
Imagens 4 e 5: Empreendimentos de casas geminadas
  
Já em áreas pouca adensadas, mas conectadas rapidamente ao centro da cidade, os empreendimentos imobiliários oferecem lotes em condomínios com uma ampla infra-estrutura e área de lazer.   
Os condomínios Vale dos Eucaliptos, o mais conhecido, localizado na BR – 495, Teresópolis – Itaipava – Petrópolis (Km 4) e Parque das Rosas e Vale das Nações (em construção –  70% já vendido), ambos em Vargem Grande, na RJ – 130, Estrada Teresópolis – Nova Friburgo (Km 12), são alguns exemplos.
Imagens 6 e 7: Condomínio em Vargem Grande
 
            As imagens 6 e 7 são da área comum e vista da entrada do condomínio Parque das Rosas, respectivamente, um dos primeiros do tipo na região.
Em pesquisa realizada, no início de março de 2011, em dois condomínios em Vargem Grande, Parque das Rosas e Vale das Nações, verificou-se que o metro quadrado custa cerca de R$ 200,00. Um pequeno lote, mais ou menos 250 m2, não custa menos de R$ 50.000,00.
            O Vale das Nações destaca-se pela consciência ecológica, cada vez mais valorizada, mas, infelizmente, pouco acessível a maior parte da população. Enquanto o Parque das Rosas possui além de uma ampla área de lazer, um heliporto.
No geral, os proprietários dos lotes ou imóveis não são moradores da cidade. Não é raro um proprietário comprar mais de um lote.
Imagens 8 Lavoura e condomínio em Vargem Grande
Na imagem 8 é possível observarmos uma área de cultivo e uma das ruas do condomínio Parque das Rosas.  Duas diferentes formas de uso e ocupação do solo, lado a lado.
Até o momento, os empreendimentos investem na compras de sítios e fazendas. Mas, dependendo da valorização da região, poderemos presenciar o avanço de condomínios, ao longo da RJ – 130 sobre áreas de cultivo, em geral, pequenas propriedades pequenas com trabalho familiar.  

2.2 O outro lado da moeda: processo de favelização

Na literatura especializada sobre o processo de favelização, já no final da década de 1960, Parisse (1969) mostrava a complexidade do olhar sobre a favela e afirmava, ao contrário da visão dominante, que a favela não era problema, mas uma solução para a questão de moradia e transporte das classes menos favorecidas. Uma estratégia para (e pela) sobrevivência dentro de uma ordem econômica, política e social que insiste em excluí-las ou integrá-las precariamente.
Na década seguinte a constatação de Parisse, Santos (1979) teorizou os sistemas urbanos dos países do terceiro mundo através do que denominou “circuito superior e inferior da economia”. Quando analisados em sua totalidade, tais circuitos mostravam-se complementares e não independentes.
            Através da análise do mercado imobiliário informal na cidade do Rio de Janeiro e em mais sete capitais brasileiras e seis países latino-americanos, Abramo (2009) constatou que os compradores de imóveis no mercado informal são justamente aqueles que não são absorvidos pelo mercado formal (em sua maioria, possuem precárias relações de trabalho, de garantia de emprego e ganham menos de 3 salários mínimos). 
Sendo assim, beira a ingenuidade ou a má intenção, normalmente com interesses políticos por trás, crer que um município do porte de Teresópolis, ou até mesmo maior, por si só, possa construir casas para todos os seus habitantes pobres. Não é viável economicamente.  E se fosse, a questão vai muito além do aspecto habitacional.

 Imagens 9 e 10: Favelas nas encostas do bairro São Pedro
 
As imagens 9 e 10, apresentam o processo de favelização no Rosário e Bairro dos Funcionários, respectivamente, nas encostas do bairro São Pedro, amplamente ocupadas por favelas.
Enquanto na imagem 9 ao fundo, podemos observar a Serra dos Cavalos, na imagem 10, registrada do mesmo lugar que a imagem anterior, é possível visualizarmos o mirante. Em ambos os casos, as favelas avançam sobre a vegetação nativa em terrenos muito íngremes. 
Imagem 11: A ocupação irregular não ocorre apenas nas encostas
         Na comunidade Beira Linha, o nome deve-se a comunidade localizar-se a beira da antiga linha do trem, imagem 11, podemos observar a ocupação praticamente dentro do rio.
Imagem 12: Não é preciso entrar na cidade para ver suas favelas
Os motoristas e passageiros que passam pela Estrada BR - 116, Rio – Bahia, entre as entradas da cidade pelos bairros Emitage e Prata, observam facilmente o processo de favelização na cidade.
A Fonte Santa, imagem 12, inicia onde acaba o acostamento da pista e avança sobre as encostas de mata nativa. Um triste exemplo da realidade socioeconômica brasileira, aliada a falta de planejamento e gestão da forma de ocupação e uso do solo.
  As imagens anteriores mostram claramente que não faltam residências. O que falta são residências com infra-estrutura, equipamentos e serviços urbanos em quantidade e qualidade. Ou seja, o pobre também constrói a sua moradia, mesmo ocupando uma área de risco e sem ou pouca infra-estrutura.
Cabe aos municípios, desde a Constituição Federal de 1988, planejar as formas de ocupação e uso do solo. A aprovação do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) possibilita aos municípios uma série de mecanismos para o planejamento e gestão das cidades brasileiras, de forma a contribuir para torná-las socialmente justas e ambientalmente sustentáveis.
Enquanto o município não tiver uma política clara, bem definida e viável do ponto de vista social, cultural e econômico para a população de baixa renda, não reduzirá ou extinguirá a ocupação informal em nosso município. 
 Ofertar a população, a preço acessível e longo prazo de pagamento terrenos urbanizados é talvez a forma mais barata e viável de reduzir o processo de favelização.
Para pagar pelo solo urbanizado a população necessita ter emprego e renda, sendo assim, o poder público deve investir em políticas de atração de empresas e o desenvolvimento das já existentes. 
É necessário também que o poder público utilize mecanismos legais para reduzir a burocracia e disponibilize profissionais qualificados para auxiliar os futuros moradores (realizar a planta da casa a um preço reduzido, por exemplo).
É importante disponibilizar a população acessibilidade, através de transporte público, as áreas centrais da cidade de forma rápida e barata. Também é necessário um quadro técnico qualificado, pesquisas, monitoramento, entre outras coisas, para o planejamento e gestão eficaz e eficiente. 
Parece complexo e na verdade é, pois não se trata apenas de moradia. Cabe registrar que urbanizar e regularizar áreas já ocupadas e adensadas sai muito mais caro e os prejuízos sociais e ambientais são incalculáveis (por exemplo, quanto custa a perda de uma vida?).



3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL

O geógrafo norte-americano Jared Diamond, no livro “Armas, germes e aço: os destinos das sociedades humanas” (2001), mostra, entre outras coisas, como civilizações antigas, que atingiram um elevado grau de desenvolvimento, entraram em colapso e até desapareceram em função de práticas inadequadas em relação ao meio ambiente (os Maias são um bom exemplo).
Ao observarmos o desenvolvimento da educação e das políticas ambientais nos países desenvolvidos, em especial nos Estados Unidos e na Inglaterra, nos estudos do Genebaldo Dias (2004), é possível percebermos que a questão ambiental só passa a ser relevante quando provoca uma perda significativa da qualidade de vida do ser humano e grandes prejuízos econômicos (a Lei do Ar Puro na Inglaterra, nos anos 1950, após milhares de pessoas morrerem devido a qualidade do ar é um dos muitos exemplos existentes).
Para Mauro Guimarães (2007) a educação ambiental crítica é aquela que “aponta para as transformações da sociedade em direção a novos paradigmas de justiça social e qualidade ambiental”.
Na mesma linha de pensamento, Marcos Reigota (2009), assinala que a educação ambiental “deve ser entendida como educação política no sentido de que ela reivindica e prepara cidadãos e cidadãs para exigir e construir uma sociedade com justiça social” e “ética nas relações sociais e com a natureza”.
Para ambos, Guimarães (2007) e Reigota (2009), a educação ambiental é uma prática política focada na justiça social e numa relação “harmônica” entre os seres humanos e a natureza.
A injustiça social e a relação desarmônica entre os seres humanos com a natureza estão materializados na paisagem teresopolitana.  A natureza de tempos em tempos nos lembra dessa injustiça e desarmonia, seja em forma de tragédias provocadas por eventos ambientais extremos ou pela perda da qualidade de vida da população.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

            No trabalho foram verificadas duas formas de ocupação do solo urbano em Teresópolis. Uma com caráter fortemente especulativo, que atende, muitas vezes, a interesses de empreendedores imobiliários locais e de fora da cidade. Os empreendimentos destinam-se a uma pequena parcela da população local e, em maior parte, a classe média e alta da cidade do Rio de Janeiro.
 O turismo e a residência de final de semana e férias são marcas históricas de Teresópolis e possuem um impacto importante na economia da cidade.
            Já no outro lado da moeda, verifica-se um crescente processo de favelização na cidade, em áreas altamente vulneráveis a deslizamentos e enchentes. As chuvas de verão todos os anos causam apreensão e em alguns casos terminam em tragédias.
O problema se arrasta a décadas e só aumenta em função da falta de planejamento e gestão do uso do solo urbano. Não faltam instrumentos, vide a aprovação do Estatuto da Cidade, completando uma década nesse ano, para o combate da especulação imobiliária e a promoção do direito a uma cidade que proporcione aos seus habitantes infra-estrutura, equipamentos e serviços urbanos em quantidade e qualidade.
Os processos descritos no trabalho, opostos, mas complementares, materializados na paisagem de Teresópolis, mas também presentes nas demais cidades brasileiras e dos países subdesenvolvidos relevam a complexidade e as contradições da sociedade e do modelo socioeconômico em que vivemos.   
            A educação ambiental, enquanto prática pedagógica e política pode nortear a busca por uma sociedade mais justa e ao mesmo tempo ambientalmente sustentável. Assim, a aproximação entre o planejamento urbano e a educação ambiental torna-se necessária e urgente.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMO, Pedro. Compro uma casa na favela: mercado informal, a nova porta de entrada dos pobres nas grandes cidades brasileiras. Anais do XIII Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional – ENANPUR. Florianópolis, 2009.
BRASIL. Prevenção de Riscos de Deslizamentos em Encostas: Guia para Elaboração de Políticas Municipais. / Celso Santos Carvalho e Thiago Galvão, organizadores – Brasília: Ministério das Cidades; Cities Alliance, 2006.
COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS – SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL. Comunidade mais segura: mudando hábitos e reduzindo riscos de movimentos de massa e inundações. / coordenação Jorge Pimentel; autores Jorge Pimentel, Carlos Eduardo Osório ferreira, Renaud D. J. Traby, Noris Costa Diniz. Rio de Janeiro: CPRM, 2007.
DIAMOND, Jared. Armas, germes e aço: os destinos das sociedades humanas. Rio de Janeiro: Record, 2001.
DIAS, Genebaldo. Educação ambiental: princípios e práticas.  9 ed. – São Paulo: Gaia, 2004.
FÉO, Roberto. Raízes de Teresópolis, outras histórias e outras coisas (1500 – 2010). Teresópolis – RJ, Editora Zem, 2010.
GUIMARÃES, Mauro. Educação ambiental: no consenso um embate? 5 ed. Campinas: Papirus, 2007.
PARISSE, Lucian. Favelas do Rio de Janeiro. Evolução – Sentido. Caderno do CENPHA. Rio de Janeiro, 1969.
PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESÓPOLIS. Lei Municipal No 2.779 de 19 de maio de 2009.
SANTOS, Milton. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: F. Alves, 1979.
REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. 2 ed. Revista e ampliada – São Paulo: Brasiliense, 2009.


[1] Texto elaborado para apresentação na aula magna do Curso de Pedagogia “Homem e natureza: marcas das chuvas em Teresópolis” do Centro Universitário Serra dos Órgãos – UNIFESO, em 24 de março de 2011.
[2] O prefeito do município de Areal, ao saber do que ocorreu nos municípios vizinhos, teve tempo e sabedoria para avisar a população local sobre a provável elevação do principal rio que corta a cidade.
[3] Existe um número expressivo de documentos e cartilhas de excelente qualidade. O Ministério das Cidades, por exemplo, produziu o documento “Prevenção de Riscos de Deslizamentos em Encostas: Guia para Elaboração de Políticas Municipais” (2006) e o município de Nova Friburgo, fortemente afetado pelas chuvas, possui um material de excelente qualidade “Comunidade mais segura: mudando hábitos e reduzindo riscos de movimentos de massa e inundações” (2007). Felizmente não falta material. Mas, infelizmente, faltam divulgação e pessoal qualificado para maiores esclarecimentos e informações.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Projeto de trabalho


FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS
CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA
ALUNA: DAIANE MARTINS DA COSTA   

PROJETO DE TRABALHO

Identificação de um problema:
·              Após visitar uma escola do campo, constatei que as crianças que vivem no campo não possuem acesso com o mundo letrado de modo pleno, visto que em falas de professores e até mesmo da diretora, queixas sobre a falta de acesso das crianças a livros, revistas e jornais, pois em sua maioria, as crianças não possuem esse contato direto em casa.
     Os pais, em sua maioria, são iletrados e nem sempre estimulam os filhos à leitura, usam frequentemente a televisão e o rádio como meio para adquirem informações sobre o mundo que os cercam. Um outro problema identificado na visita foi à falta de espaço físico da escola destinado à leitura. Então, como criar um ambiente reservado à leitura, em um lugar onde há pouco espaço e que não possui biblioteca, de modo a favorecer e desenvolver o gosto das crianças pela leitura.


Levantamento de hipóteses e soluções:
·              Se na escola não há um espaço destinado à leitura e não possui biblioteca, há necessidade em despertar o interesse das crianças para a leitura, seria importante encontrar meios de oferecer mais acesso aos livros, revistas, jornais, etc. cotidianamente. Fazer com que a leitura esteja presente na rotina da escola, não como obrigação, mas de modo a estimular e aguçar o interesse das crianças para o mundo letrado que está a sua volta, visando o seu desenvolvimento cognitivo e promovendo às crianças a oportunidade de escolha sobre o que desejam aprender.


Mapeamento do aporte científico necessário:
Neste livro a autora vem contando como literatura infantil é importante para a formação da criança para a vida adulta. Destaca a todo instante a importância do livro, que ele deve ser usado para estimular a criatividade, sensibilidade, capacidade de senso critico e imaginação das crianças. Escolhi esse livro como aporte teórico, por se aproximar muito do que pretendo desenvolver neste projeto, estimular e tornar a leitura mais presente na vida das crianças e da rotina escolar, já que um dos fatores destacados no livro, a qual me chamou a atenção, é a importância da escola na formação desses leitores. Penso que, cabe a escola ser criativa e encontrar meios de estimular essas crianças a interagir com o maio letrado.
·         Este livro vem trazendo várias maneira de se pensar à importância da leitura, destaca a leitura como sendo a formadora da linguagem e da personalidade do homem e que todo bom leitor é bom aprendiz. Partindo dessa idéia, por que então não estimular e oferecer livros e revistas às crianças para que elas possam selecionar e a partir daí despertar o interesse para as novas informações que lhe são postas em sala de aula.

Seleção dos parceiros:
·         Professora Maria Terezinha Espinosa - GEI de Educação do Campo: indicação de aporte teórico e ideias para o projeto de trabalho.
·         Professora Ana Laura - Seminário Interdisciplinar: auxílio na formulação e identificação do problema.
·         Mercado Flor da Posse: doação de um carrinho de compras para o projeto.


Definição de um produto:
  • Tomando como base a hipótese e a solução para o problema levantado, decidi montar uma pequena biblioteca móvel com livros e revistas para as crianças da escola do campo.

Documentação e registro:
·         Projeto com a descrição das etapas do processo de montagem da Biblioteca Ambulante.

Método de acompanhamento e avaliação:
  • Pesquisa sobre os problemas encontrados na escola do campo;
  • Pesquisa sobre como organizar o espaço escolar.
  •  

Publicação e divulgação:
  • Arrecadação dos livros infantis;
  • Doação da Biblioteca Ambulante para a Escola Municipal Estolino Peixoto da Rocha.
  • Divulgação na apresentação do projeto de trabalho.

Referências Bibliográficas:
DINORAH, Maria. O livro infantil e a formação do leitor. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
JOLIBERT, Josette. Formando crianças leitoras. Tradução de Bruno Charles Magne. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1994.
RICHARD, Bamberger. Como incentivar o hábito de leitura. Tradução de Octávio Mendes Cajado. 7 ed. São Paulo, SP, Ática, 2000. (Série Educação em ação).