segunda-feira, 21 de março de 2011

Artigo

POR QUE OUVIR AS CRIANÇAS?
Maria Terezinha Espinosa de Oliveira
DOUTORA em educação
Professora e coordenadora do Curso de Pedagogia do UNIFESO


Um dia Mariazinha acordou e correu para falar com sua mãe sobre seu sonho.

- Mãe... Mãe eu sonhei que...

- Agora não menina, estou atrasada para o trabalho. Quando eu voltar você me conta.

Mais tarde...

- Mãe, posso te contar meu sonho agora?

- Estou cansada, daqui a pouco vou te ouvir.

       Mariazinha desistiu de contar seu sonho. Era um sonho tão bonito com um cachorro que falava! Foi dormir e no dia seguinte já não lembrava de mais nada.

       Esta não é uma história de ficção. Situações como esta acontecem muitas vezes com as crianças em suas casas, ou nas escolas. Elas expressam a idéia de muitos adultos que pensam as crianças como seres pouco competentes, dependentes dos adultos e que não têm sobre o que falar. Ainda precisamos difundir uma outra idéia sobre as crianças. Aquela que as considera como sujeitos de direitos, independente de suas condições de vida econômica e cultural.

       Mas, porque é importante ouvir as crianças?

       Em primeiro lugar faz-se necessário compreender o significado do termo ouvir. A habilidade de ouvir ou escutar é um fenômeno físico que possibilita receber uma informação, decifrá-la e compreendê-la que no nosso caso – o da escuta da criança pelo adulto – envolve a interpretação. Podemos ouvir durante um dia inteiro em níveis diferenciados. Ao ouvir passivamente não damos atenção à mensagem, pensando em outras coisas enquanto ouvimos. Neste caso não há interação entre quem fala e quem ouve. Em outro nível podemos ouvir atentamente, captando as idéias principais, agindo e reagindo na comunicação. Ao fazermos isso provocamos no outro, pensamentos e sentimentos enriquecedores, aproximando e produzindo interações.

       Quando aquele que ouve é o adulto e o falante a criança, a comunicação fica enriquecida pelas expressões corporais, gestuais e faciais. Por isso ao ouvir as crianças precisamos estar de corpo inteiro, esvaziando a cabeça para poder compreender o que ela quer dizer.

        As crianças têm consciência de seus sentimentos, idéias, desejos e expectativas e são capazes de expressá-los desde que haja quem as escute com atenção. Ao falar desenvolvem formas específicas de comunicação oral e corporal, criam um vocabulário próprio, inventam palavras. Nós adultos devemos ouvir as crianças com atenção porque quando falam revelam os sentidos e significações, e os valores que desenvolvem sobre o mundo em que vivem.

       Ao expressar suas idéias, as crianças estão estimulando sua atividade mental. Nas narrativas que constroem as situações vividas, o imaginário e tudo que ouve dos adultos e de outras crianças se mesclam a partir da sua lógica, da sua forma singular de compreender o mundo a sua volta. Nesse movimento realidade e imaginação tornam-se brincadeiras com as quais exploram e criam papéis e situações na forma de simbolização. Na primeira infância as crianças ainda estão desenvolvendo a capacidade de distinguir ficção e realidade. Nesse momento seu pensamento associa elementos da realidade às suas observações das situações vividas e a imaginação.

       Como os pais e professores podem ajudar no desenvolvimento da expressão das crianças?

       Os adultos devem se colocar como co-participantes das narrativas, estimulando e ajudando no desenvolvimento de sua expressão. Devem também ouvir as crianças para compreender como estão percebendo as situações que vivem e assim ajudá-las no amadurecimento afetivo e a tornarem-se pessoas sadias e felizes. Não se preocupam se o que as crianças contam é verdade ou mentira. Embarquem na brincadeira e estimulem pedindo mais detalhes sobre o que elas estão narrando. Ao fazerem isso estarão provocando a reflexão, a atividade mental. Não pensem que por isso as crianças se tornarão mentirosas. O importante é cuidar delas com amor, carinho, permitindo que brinquem e sejam felizes hoje para que possam ser adultos autônomos, criativos e também felizes.

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